O grande espelho na porta do guarda-roupa mostrava a imagem de César em sua camisa branca. Desde seu divórcio habituara-se a dedicar muito mais tempo ao ato de vestir-se. Apanhou a gravata preta ciente do quanto ficava bem de terno. Contudo, os olhares femininos não atrairiam sua atenção nessa noite, acreditava que flertar em um velório não era de bom tom, principalmente sendo este o velório de seu velho mestre, Eusébio Duarte.
Orfão de pai, César colecionara figuras paternas ao longo da vida. Porém, Eusébio era o único a quem ele realmente desejara chamar de pai. Se conheceram em uma classe da faculdade de história. Duarte era então um professor veterano, conhecido por tirar o melhor de seus alunos, era um homem dotado de um poderoso raciocínio e de uma memória infalível. Parecia capaz de traçar uma linha de tempo de toda a história mundial sem a necessidade de consultar nenhum livro e sem omitir nenhum detalhe, por mais obscuro ou irrelevante que fosse. E em César, o educador havia encontrado mais do que um aluno dedicado, encontrara um discípulo obstinado! Compartilhavam as mesmas idéias sobre todas as guerras terem sido disputadas por razões políticas, sobre os verdadeiros heróis serem os anônimos, e que os grandes líderes eram sempre movidos por interesses pessoais. Se não concordavam em tudo, era porque o aluno nunca entendeu a paixão de seu professor por certas áreas do conhecimento humano.
O som da campainha tirou César do mundo das lembranças. Terminou de atar o nó semi-windsor da gravata, pois não existia emergência capaz de surpreendê-lo desalinhado. A porta se abriu revelando o rosto de Antero, advogado de Eusébio. O pobre homem parecia exausto, como se tivesse acabado de correr uma maratona. Trazia consigo uma carta com o nome de Duarte escrito no remetente e as ordens que o advogado tinha sobre o envelope eram, no mínimo curiosas. A carta lhe fora entregue a alguns meses com recomendação de que no dia da morte de seu autor a mesma deveria ser entregue a César imediatamente. Livre de sua tarefa, Antero partiu desejando os pêsames e alertando que poderia ser encontrado no velório de seu cliente.
O som da campainha tirou César do mundo das lembranças. Terminou de atar o nó semi-windsor da gravata, pois não existia emergência capaz de surpreendê-lo desalinhado. A porta se abriu revelando o rosto de Antero, advogado de Eusébio. O pobre homem parecia exausto, como se tivesse acabado de correr uma maratona. Trazia consigo uma carta com o nome de Duarte escrito no remetente e as ordens que o advogado tinha sobre o envelope eram, no mínimo curiosas. A carta lhe fora entregue a alguns meses com recomendação de que no dia da morte de seu autor a mesma deveria ser entregue a César imediatamente. Livre de sua tarefa, Antero partiu desejando os pêsames e alertando que poderia ser encontrado no velório de seu cliente.
O envelope revelou seu conteúdo sem demora. Uma pequena chave gasta e um manuscrito de Duarte dirigido à seu pupilo. Eusébio falava sobre o temor de que um aneurisma na aorta lhe roubasse a vida a qualquer momento, com palavras sinceras o texto falava da admiração e afeto que sentia por César e pedia que, se o sentimento fosse mútuo, o discípulo deveria partir de imediato para o endereço escrito no remetente levando a chave e um isqueiro. E acrescentava um pedido, que não o julgasse mal pelos resultados da expedição que estava prestes a empreender.
Minutos mais tarde, o carro de César seguia para o local indicado. Uma grande inquietude se abatia sobre o aluno. Não podia imaginar o que seu mentor poderia ter em mente para fazer esse último pedido em termos tão misteriosos. O isqueiro, por certo só poderia ser para atear fogo em algo, mas que resultados poderiam ser esses, dos quais o velho mestre se desculpava antecipadamente? Sentido um calafrio percorrer a espinha ele se lembrou que Duarte sempre tivera algum apreço pelo ocultismo e pela influência das bruxas e da magia negra ao longo da história. Seu interesse por tais tópicos apenas aumentou com o passar dos anos a ponto de se tornar obcecado para recuperar o conhecimento perdido de antigos grimórios queimados pela igreja, também pesquisou a fundo a vida de supostos necromantes como Aliester Crowley e Rasputin.
Minutos mais tarde, o carro de César seguia para o local indicado. Uma grande inquietude se abatia sobre o aluno. Não podia imaginar o que seu mentor poderia ter em mente para fazer esse último pedido em termos tão misteriosos. O isqueiro, por certo só poderia ser para atear fogo em algo, mas que resultados poderiam ser esses, dos quais o velho mestre se desculpava antecipadamente? Sentido um calafrio percorrer a espinha ele se lembrou que Duarte sempre tivera algum apreço pelo ocultismo e pela influência das bruxas e da magia negra ao longo da história. Seu interesse por tais tópicos apenas aumentou com o passar dos anos a ponto de se tornar obcecado para recuperar o conhecimento perdido de antigos grimórios queimados pela igreja, também pesquisou a fundo a vida de supostos necromantes como Aliester Crowley e Rasputin.
O que um homem tão letrado quanto seu mentor estaria buscando em temas tão questionáveis era algo que César jamais compreendera, e essa incompreensão levara a inúmeras discussões. O discípulo de Eusébio Duarte chegou ao endereço marcado quando o Sol já ia se pondo, uma casa no subúrbio, com um gramado crescendo sem cuidado no jardim, embora a casa em si parecia razoavelmente bem conservada. Sem pensar muito introduziu a chave na fechadura, a porta foi destrancada permitindo a entrada de César naquele ambiente abstraído da realidade, onde o próprio ar parecia pesado e opressor.
Não encontrou nenhum móvel, nem viu nenhum quadro pendurado na parede. O brilho avermelhado do crepúsculo entrava pela única janela. A casa estaria totalmente vazia não fosse o grande desenho no chão da sala, feito em giz branco, delineando um círculo com um antigo símbolo arcano em seu interior, e inscrições em volta da borda em vários idiomas ancestrais, línguas mortas em sua maioria. César reconheceu os ideogramas lemurianos para as palavras “morte” e “vida”, o resto ele não era capaz de decifrar. Apesar da estranheza de todos esses detalhes mórbidos, o que realmente o perturbou era o que havia no centro do círculo, onde um altar de um metro de altura destacava-se, encimado por um crânio envelhecido, e sob o crânio havia uma vela parcialmente derretida com o pavio apagado.
César não saberia dizer se estava mais abalado pelo cenário disposto diante de seus olhos, ou pelo fato de saber que seu mestre era o responsável por isso. O objetivo do isqueiro logo ficou claro, mas não conseguia decifrar o objetivo de Duarte. O que poderia querer com aquilo? Quais seriam os resultados? Sendo um homem que não acreditava no sobrenatural, César caminhou até o centro do círculo disposto a acabar logo com a ansiedade e ir embora, mas uma vez em frente ao altar sentiu o isqueiro aceso pesar em sua mão. Lembrou de já ter visto aqueles símbolos e aquele altar antes. Anos atrás, quando surpreendera seu professor lendo o diário de uma suposta feiticeira, e esse mesmo diagrama estava rabiscado no diário. Porém não fazia idéia de qual era o nome do tal ritual.
E mesmo que pudesse se lembrar, que diferença faria? César repreendeu-se por estar ali pensando seriamente que algo de mágico aconteceria se acendesse a vela. Provavelmente tudo não passava de uma brincadeira de mau gosto. Um último desafio além-túmulo. Por que não? A despeito de suas qualidades, Duarte tinha seus defeitos, sendo um deles seu senso de humor bastante duvidoso. Houve uma oportunidade em que fizera uma piada absurda sobre abuso sexual na presença de duas mulheres, rindo sozinho por um longo tempo. O que mais poderia ser tudo isso se não o adeus incomum de um homem incomum?
Com um gesto rápido e decidido, a chama do isqueiro fez contato com o pavio da vela. Por um instante a fumaça azul pareceu se contorcer na forma de uma face agonizante, mas o estranho efeito desapareceu logo, como se jamais tivesse acontecido. Minutos mais tarde, César conduzia seu carro rumo ao velório, constatando que de fato, nada havia mudado ao seu redor. Trafegando pelas ruas, sentiu-se satisfeito por haver passado no desafio final de seu professor. Agora que estava longe daquele ambiente funesto, achava graça da maneira como ele, tão letrado e cético hesitara. Já era noite quando alcançou o local do velório. A funerária se localizava em uma rua de pouco movimento, sem vizinhos imediatos. A medida que se aproximava, César sentiu o mesmo medo de antes voltar a assaltá-lo.
Do lado de fora da funerária não havia ninguém, tampouco encontrou outra viva alma na recepção. O telefone fora do gancho, os papéis revirados e um vaso de plantas caído indicavam que o local havia sido abandonado às pressas. Com passos vacilantes, César entrou por um corredor chamando, sem sucesso por qualquer pessoa que poderia estar ali para elucidar o mistério. Decidiu não dar mais nenhum passo adiante e chamar a polícia, mas não pode levar seu plano adiante.
Um violento baque abriu uma porta lateral e um longo grunhido vagamente humano anunciou a chegada de uma criatura oriunda de um pesadelo.
Assemelhava-se a um homem trajando um terno, mas tudo naquele ser parecia uma afronta a própria natureza! Seu caminhar era irregular, emitia sons horripilantes, os trajes estavam encharcados de sangue que jorrara de um enorme talho no pescoço, tão grande que a cabeça pendia de lado. Mas fora o rosto que realmente lançara o terror no coração de César, pois aquele monstro... aquela coisa... era Antero!
O zumbi bloqueava a saída, em desespero, César disparou adentrando mais e mais naquele prédio. De relance viu paredes cobertas de sangue e corpos semi-devorados abandonados no chão. Porém, quando chegou a sala de velório deparou-se com uma visão que lhe roubou as forças. O cadáver de uma jovem garota jazia em uma grande poça de sangue. Seu corpo estava sendo devorado, e o responsável por esse ato tão inominável não era outro senão seu velho mentor, Eusébio Duarte. Tinha os olhos vidrados, as roupas cheias de sangue e pedaços de carne humana caiam de sua boca.
César ainda não conseguia se lembrar do nome do antigo ritual rabiscado no diário da feiticeira, mas seu resultado era óbvio. O discípulo deu-se conta da terrível verdade. Imaginou o cenário de horror quando seu mestre escapou dos braços da morte, contrariando as leis da natureza para saciar seu novo apetite macabro com a carne daqueles que o velavam.
Antero surgiu na porta da sala acompanhado de outro morto-vivo, com um ruído a jovem que até então era devorada, começou a erguer-se, deixando claro que Duarte era capaz de compartilhar sua condição amaldiçoada. Enquanto compreendia o que estava acontecendo, um novo sentimento começou a aflorar em César, um sentimento mais forte que o medo e o terror, a culpa. Fora ele quem completara o ritual e lançara seu mestre nesse estado de não-vida.
Pensou nos inocentes que já haviam morrido e em quantos mais pereceriam quando os mortos-vivos deixassem as dependências da funerária e ganhassem as ruas. E para quê? Por que seu professor escolhera esse destino? Com que propósito uma pessoa decidiria trilhar um caminho tão hediondo? A resposta para tais questões se limitava a grunhidos e gemidos inumanos.
Joelhos se dobraram ante o peso da culpa. Liderados por Duarte, os zumbis avançaram. César não resistiu. Tornar-se um deles era sua punição.
Bacana, Joe. Tome cuidado com as repetiçoes de palavras e a falta de objetividade, principalmente no início.
ResponderExcluirFoda ...
ResponderExcluirRealmente o começo foi uma parte que me deixou meio em dúvida sobre algumas coisas.
ResponderExcluirObrigado aos dois pelo comentários!