20 de jun. de 2015

[Resenha] A Torre Acima do Véu, de Roberta Spindler

A trama de A Torre Acima do Véu fala sobre um futuro pós-apocalíptico. Tudo começa quando uma densa névoa surge sem aviso e cobre o mundo. Aqueles que entram em contato com a neblina acabam mortos ou transformados em monstros deformados. Aos sobreviventes restou buscar abrigo em gigantescos arranha-céus que sobem acima da nuvem tóxica. Cinquenta anos se passaram desde então e, à medida em que a população se esquece como era a vida antes da névoa, uma nova ordem social é organizada.

É nesse cenário que conhecemos Beca, uma jovem temperamental dotada de habilidades acrobáticas sobre-humanas. Ela vive na mega-cidade Rio-Aires e ganha a vida vasculhando áreas de névoa em busca de itens de valor. Claro que essas missões são perigosas, já que além de não contar com o melhor equipamento, ela precisa lidar com concorrentes e com as criaturas que habitam a névoa, os monstruosos Sombras.

Em suas missões, Beca conta com o suporte de seu irmão Edu e seu pai adotivo Lion. Os três moram numa área que está sob o comando de Emir, líder da Torre, o maior arranha-céu de Rio-Aires. Embora Emir venda a ideia de estar sempre trabalhando pelo bem estar de todos, a verdade é que a vida nos mega-edifícios é uma luta diária de poucos confortos e há outras facções que disputam o poder com a Torre. Outra figura importante na trama é Rato, um rapaz cheio de segredos, que surge como antagonista e possível interesse amoroso de Beca.

A Torre Acima do Véu é um livro que mistura elementos de distopia young adult e survival horror, trazendo uma ambientação que o destaca de outras obras do gênero, tanto que eu gostaria que um pouco mais de tempo para mostrar melhor a política e o jogo de poder entre as diferentes facções. Vale ressaltar que a maioria dos personagens são afrodescendentes (incluindo a própria Beca) ou mulatos. Uma boa sacada da autora.

Falando sobre personagens, Beca é uma garota de temperamento explosivo. É sempre bom ver uma protagonista feminina independente, mas em alguns momentos ela assume uma postura desnecessariamente agressiva, além de ter uma personalidade um pouco rasa, assim como os demais personagens do livro. A narrativa tem um estilo ágil e dinâmico, o vocabulário é bastante acessível.

Uma coisa que me incomodou um pouco foram as mudanças rápidas de ponto de vista. Textos que abordem a visão de vários personagens simultaneamente não me incomodam, mas aqui elas são tão raras que quando acontecem acabam criando certa confusão. O final é inconclusivo, deixando claro que haverá um segundo volume (pelo twitter, a Roberta me revelou que não será uma continuação direta, e sim uma história ambientada no mesmo universo).

Em última análise, A Torre Acima do Véu é um bom livro. A ambientação é interessante e as sequências de ação são de tirar o folêgo. Fica a impressão de que não alcançou todo o potencial, mesmo assim, vale a leitura. Recomendado!


A TORRE ACIMA DO VÉU
Autora: Roberta Spindler
Páginas: 270
Lançamento: 2014
Editora: Giz Editorial

12 de jun. de 2015

[Conto] Licença Maternal

Ladrões, sequestradores, pedófilos, estupradores, assassinos… Esse tipo de gente não me assusta; lidar com o pior da Sociedade é meu trabalho. Mas o que vou fazer agora, isso sim, mexe comigo. É o futuro da minha vida familiar que está em jogo.

Confiro minha aparência no espelho do fundo do elevador. Dou uma ajustada na armadura policial modelo copsuit de placas nanopolimetrícas azuis sobre um colante preto à prova de balas, fogo, eletricidade e sei lá mais o quê. Pesa menos de um quilo, mas o manual garante que aguenta até um tiro de canhão de plasma.

— Nervosa, Sandra? — pergunta o capitão Álvaro, sua hierarquia superior garante uma copsuit um pouco mais sofisticada. No espelho, o vejo dar aquele sorriso com o canto da boca, enquanto encara minha bunda, me comendo com os olhos. Nenhuma novidade.